quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Um Olhar Sobre a Velhice




Delimitar velhice através de conceituações não é algo fácil, pois requer um conhecimento amplo de como os idosos estão inseridos no processo de construção social. A velhice, do ponto de vista biológico, é percebida como um desgaste natural das estruturas orgânicas que, com isso, passam por transformações com o progredir da idade, prevalecendo os processos degenerativo.


No imaginário social, o envelhecer está associado com o fim de uma etapa; é sinônimo de sofrimento, solidão, doença e morte. Dificilmente neste imaginário se vê algum prazer de viver nessa fase da vida. O negativismo em torno do processo de envelhecimento foi construído historicamente na sociedade.

Para tentar definir velhice, é importante a contribuição de outras áreas do conhecimento, que levem em consideração as diferenças socioculturais em que os idosos vivem. Recentemente, a visão sobre a velhice como fator orgânico foi perdendo força, e a velhice e o envelhecimento passaram a constituir objetos de reflexão da antropologia. A abordagem antropológica sobre a velhice visa a transcender particularismos culturais e encontrar alguns traços comuns do fenômeno que poderiam ser considerados universais.

A representação que os outros têm da velhice, como perda da autonomia, leva a um estigma de que o idoso é um problema social. O olhar do outro em relação à velhice é um olhar estigmatizado e negativizado. Mas será que esses idosos se vêem como um problema? O que eles pensam a respeito da estigmatização que lhe é imposta? Tratar o envelhecimento como um problema social é um profundo desrespeito com aqueles que construíram e sustentaram uma sociedade, com seu poder de decisão e autonomia. E hoje, mesmo não querendo delegar seu direito de decisão a outros, suas opiniões são descartadas e eles são tratados como um encargo para a sociedade. 

Numa sociedade capitalista que visa à força física para a produção de bens e consumo é evidente um culto à juventude, que faz com que os idosos utilizem subterfúgios para garantir a eterna juventude e possível “beleza” que a sociedade tanto valoriza. É em torno desse culto à beleza que se firmam os mercados de consumo voltados para a população idosa: cultura, lazer, estéticas, serviços de saúde, entre outros. Esse grupo social crescente promoveu mudanças nos diversos setores sociais – político, trabalho, economia e cultura – e atribuíram novo significado a seu espaço, muitas vezes percebido como de decadência física e inatividade.

Os idosos brasileiros estão construindo seu espaço de sociabilização e inclusão social, e se percebe um crescimento dos movimentos de aposentados e de terceira idade. O primeiro é um movimento mais político congregado por homens, enquanto que o segundo, sociocultural, reúne mais mulheres. Esses espaços de sociabilização são importantes na construção social da identidade do idoso durante a velhice, pois permitem uma interação dos mesmos, na busca de uma positivização da velhice que afaste a solidão e o preconceito, permitindo um envelhecimento ativo e independente.

Fonte: Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia
 

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